sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um dia ( I parte)



Trim… trim… trim… Acordo assustada com o despertador, levanto-me, ainda com uma certa dificuldade provocada pelo sono e em passos lentos e pesados dirijo-me para a janela. Observo um dia cinzento, frio, chuvoso. Contudo, apesar de ser ainda muito cedo, a rua está repleta de pessoas muito atarefadas, carregadas de sacos e embrulhos nas mãos e, ao contrário dos outros dias, não parecem estar incomodadas com o frio ou com a chuva. Todas elas transportam um agradável e leve sorriso nos lábios; é véspera de Natal. Foi então que abri a janela e ao sabor de um vento fresco, húmido e suave, comecei uma curta viajem no tempo recordando o Natal da minha infância.
Lembro-me da enorme árvore de Natal enfeitada com anjos, estrelas, luzes e bolas, do bebé que só era colocado no presépio no dia vinte e cinco, da lareira sempre acesa proporcionando um agradável calor, contrastando com o frio que vinha das ruas iluminadas, do cheirinho a pão-de-ló e a bolo-rei que saía das pastelarias e que enchia a barriga de quem passava perto delas, hummm… lembro-me de como acordava alegre e ansiosa por ajudar a minha avó a preparar as rabanadas, os bolinhos de abóbora, as filhoses, aletria, o leite-creme e de como me lambozava com uma deliciosa mousse de chocolate. Iam-se procurar as maiores panelas e travessas, a mesa era posta com a loiça de porcelana, os copos de cristal e decorada com a toalha mais bonita e um grande arranjo de azevinho e velas feito pela minha mãe. Depois, enquanto dia ia morrendo e a noite nascendo, começavam a chegar as pessoas, uma a uma, com uma rapidez impacientemente lenta, trazendo com elas alguns doces, espumantes, vinho do Porto e presentes.
Como tudo me parecia perfeito! Todos pareciam estar felizes, sentavam-se em redor da grande mesa da sala de jantar e o humilde bacalhau transformava-se milagrosamente no melhor jantar do mundo! No ar, sobrevoava um agradável e inconfundível cheiro a frutos secos. Ainda hoje, continuo a sentir esse aprazível aroma.
A noite demorava uma eternidade a passar. Recordo-me que eu, o meu irmão e os meus primos, esperávamos alegremente pela meia-noite, altura em que supostamente o Menino Jesus, com a preciosa ajuda do Pai Natal, traria presentes para aqueles que menos travessuras tinham feito ao longo do ano. Nunca acreditei no Pai Natal e tinha consciência que o Menino há muito tinha crescido. Todavia, fingia acreditar. Talvez para aproveitar aquele momento mágico em toda a sua plenitude. Todos os anos acontecia religiosamente a mesma coisa: o grande relógio do corredor anunciava pomposamente as doze badaladas e, simultaneamente, alguém tocava a campainha da porta. Enquanto corríamos euforicamente para a porta da rua, alguém punha os presentes junto da árvore. Quando fecho os olhos ainda consigo ouvir os risos ao rasgar energicamente os papéis coloridos dos presentes que, como por encanto, tinham aparecido ali…

Girassol (TSMS) 2001

Amanhã há mais!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ele chegou!


Dezembro aproxima-se a passos largos e com ele vêm as ruas iluminadas, as casas decoradas, músicas da época, e toda aquela loucura que tanto tem caracterizado o Natal ultimamente. Por este motivo cada vez mais se ouvem vozes a criticar tão ferozmente esta época do ano. Não lhes tiro a razão. Por vezes o Natal também me irrita. Tanta boa vontade, tanta solidariedade de circunstância, tanta ternura no ar... acompanhada sempre por uma boa dose de falsidade e hipocrisia. Sei disso tudo. No entanto, não deixo de sentir um carinho especial por esta época. Pelo menos há uma altura do ano em que tudo parece ser mágico, pelo menos há uma altura do ano em que nos lembramos do nosso próximo, pelo menos há uma altura do ano em que o mundo, tão imperfeito e cruel, fica um pouco mais perfeito, nem que seja apenas nos nossos corações.
Todos os anos digo sempre a mesma coisa: "este ano não quero saber da árvore, nem do presépio, nem de nada...". No entanto, quando vou à despensa estas coisas começam a sorrir para mim... Pelo menos uma vez por ano volto a ser criança.

P.S. Nos próximos dias vou-vos deixar um pequeno conto de Natal escrito por mim há alguns anos.


domingo, 15 de novembro de 2009

Horizonte



















Olho incansavelmente o brilho azul do mar.
O horizonte, infinitamente longínquo,
Com a minha mão tento alcançar.

Olho incansavelmente o brilho azul do mar.
Procuro continuamente o sonho que me sepultou
Nesta praia de areia negra e pura,
Onde caminho de alma perdida e nua...

Olho incansavelmente o brilho azul do mar.
Desejo no horizonte encontrar
O brilho extasiado dos teus olhos
Que as cruéis ondas, para longe, insistem arrastar.

Sozinha, caminho pela praia deserta.
Olho tristemente o brilho azul do mar,
Procuro outros olhos,
Procuro outro brilho,
Procuro Alguém para amar...

Girassol (T.S.M.S.)
Junho de 2006